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quinta-feira, novembro 30, 2006

(Pri)Madonna?

"My guest today is no stranger to controversy"...
Oprah Winfrey inicia assim a entrevista com Madonna, no mês passado, no dia em que a cantora decide explicar ao mundo os factos relativos à adopção de David Banda.
Há mais de 20 anos que Madonna sabe, de facto, o que é estar debaixo de fogo e ser criticada pelas formas que usa para exprimir opiniões, alertar consciências e (obviamente) vender discos. Nada disto é estranho para ela. O que é estranho é que tantas personalidades e instituições ainda caiam na esparrela de responder na medida exacta que ela (meticulosamente) calculou. A fórmula é tão repetida que não se percebe como ainda se cai na armadilha de dar de bandeja a Madonna aquilo que a outros custa tanto a pagar: publicidade.
Em Maio deste ano, estreou em Los Angeles a Confessions Tour, onde Madonna apresenta sobretudo o seu último álbum, "Confessions on a Dancefloor", intercalado com meia-dúzia de antigos sucessos. Na altura da estréia, a digressão tinha já quase todos os espectáculos esgotados para os meses seguintes, ameaçando bater o record (o que veio a concretizar-se) da tournée mais bem sucedida de sempre de uma artista feminina.
A NBC anunciou, entretanto, que iria gravar o espectáculo para um especial transmitido em Novembro, gravações essas que dariam também origem ao DVD previsto para Janeiro. E imediatamente começou a circular pela Internet uma petição, promovida pela American Family Association, visando boicotar a transmissão de uma das cenas incluídas no espectáculo. No título lia-se: "NBC, Madonna Set To Mock The Crucifixion of Christ."
Mas que cena é essa que já tinha provocado também a ira dos Ortodoxos Russos, do Vaticano (aquando da passagem da digressão por Roma) e até de altas instâncias de países como a Dinamarca onde o espectáculo foi vigiado por representantes do Governo?
Para além de analisar a cena propriamente dita, há que entender o espectáculo de Madonna como uma encenação teatral que vai muito além do padrão regular de um "concerto de música". A cantora começou cedo a utilizar o palco dos seus concertos como um espaço de expressão onde os seus êxitos se transformam em conceitos, manifestos, seguindo uma linha condutora que visa, mais que apresentar canções alinhadas sem critério, juntá-las num todo com uma mensagem adjacente. Letras, ritmos e coreografias passam a servir conceitos e mensagens, subvertendo ou modificando, por vezes, o significado original das canções.
Foi o que aconteceu com "Live To Tell", na "Confessions Tour".
O segundo bloco do espectáculo começa com uma sequência em que três bailarinos confessam experiências difíceis da sua infância, que todos eles acabaram por ultrapassar, enquanto executam uma exigente e dramática coreografia, numa mensagem de incentivo, luta e esperança. Em seguida ergue-se uma gigante cruz de espelhos, onde Madonna canta "Live To Tell". Por cima da cantora, um contador vai somando um número astronómico que se trava em 12 000 000, o número de crianças que em África estão órfãs da Sida.
Nesta altura Madonna desce da cruz:
"If I ran away, I'd never have the strength To go very far
How would they hear the beating of my heart
Will it grow cold
The secret that I hide,
Will I grow old
How will they hear
When will they learn
How will they know?"
Nesta altura lê-se, nas telas gigantes:
"For I was hungy, and you gave me food
I was naked and you gave me clothing
I was sick and you took care of me
And God replied,
Whatever you did for one of the least of my brothers...
you did it to me." Mathew 25:35
Esta mensagem, a meu ver, não é uma ridicularização dos ensinamentos de Cristo, mas uma forma teatral de os exaltar e difundir, servindo, neste caso, um propósito concreto e bem definido: a ajuda a Àfrica e à fundação Raising Malawi, fundada pela própria Madonna.
Terminada "Live To Tell", segue-se a novíssima "Forbidden Love", em que ainda com a cruz em fundo e através de uma coreografia original se apela à união entre povos, neste caso Israel e Palestina como exemplo de uma Paz ansiada.
Mockery of The Christ? Não me parece. Parece-me, sim, um exemplo de arte e entretenimento aliado a um propósito legítimo e digno, de mobilização por uma causa.
Manobra de publicidade? "Claro que era uma manobra de publicidade", diz Madonna em entrevista a Meredith Vieira, "todo o meu espectáculo era uma manobra de publicidade, faço concertos para vender discos e chamar a atenção para aquilo em que acredito".
A NBC retirou partes de "Live To Tell" do seu especial "Confessions Tour", mas no resto do mundo o concerto será transmitido sem censura.
Em Portugal, a RTP está a negociar a compra do programa e anunciará em breve a data da transmissão.
O DVD está previsto para Janeiro.


Nada como ver para poder julgar... Abaixo o vídeo de "Live To Tell", ao vivo em Londres!

2 Comments:

At 2:23 da manhã, Blogger intruso said...

liberdade de expressão, acima de tudo.....

:)

(estas "censuras" em democracia... não se percebem...
ou melhor, percebem, mas não têm justificação...
enfim...)

abraço

 
At 1:44 da tarde, Blogger nelio said...

nem vale a pena comentar muito. os cães ladram e a caravana passa...

 

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