IL Divo
Continuo a achar que ainda posso enganar o destino e ter a ousadia de me sentir o rei da noite...
Mais uma vez aprendi a lição.
Na maior das poses, aqui o divo desce, decidido e majestoso, com a sua indumentária Felliniana, pela famigerada escadaria do Lux. A que vem do terraço, aquela onde temos que ser perfeitos porque todos os olhos a alcançam... mas onde pomos sempre o ar mais blasé do mundo, fingindo que não queremos saber.
Paternal e condescendente, aviso o meu cambaleante amigo Rui para que tenha cuidado com os degraus. Ao terminar a frase, o meu mocassin preto escorrega no quinto degrau e o meu rabo aterra algures pelo décimo quinto. A minha bengala é encontrada no fundo da escada e a minha fantástica cartola rebola atrás de mim.
O Lux observa, implacável. Eu finjo recompor-me depressa, com um sorriso altivo.
E abandono a festa com um braço em carne viva, um tornozelo dorido e mais uma queda aparatosa no currículo.
Hoje ainda me exibi por Lisboa com as minhas feridas ao léu... Achei que dava um ar másculo, de quem tem imensos acidentes de mota ou coisa do género. Mas acho que não fiz sensação.